Estagiar em uma empresa na área ambiental é bastante enriquecedor quando se trata de preparação para o mercado de trabalho. Trabalhar antes de me formar com laudos de vegetação, qualidade de água, programas de gerenciamento de resíduos para a construção civil (PGRCC), entre outros foi uma grande oportunidade. Ainda assim, essa área é praticamente desconhecida para os meus colegas de UFGRS, visto que à exceção de Análise de Impacto Ambiental (acho que é só essa), nós não temos preparação pra exercer tal função. Aliás, o despreparo dos biólogos tem deixado espaço para profissionais menos qualificados (falando em termos de conhecimento botânico e faunístico), como os agrônomos e os engenheiros ambientais, que parecem ter percebido antes de nós que o licenciamento ambiental é uma área que vem crescendo concomitantemente ao crescimento do mercado imobiliário.
Biólogos e construção civil
As empresas em geral tendem a crer que nós biólogos estamos sempre pondo algum empecilho à realização de suas obras, tanto os que são contratados para analisar as áreas quanto os funcionários dos órgãos ambientais. Entretanto, somos fundamentais para que as mesmas ocorram da melhor forma possível, seguindo a legislação vigente – que as empresas conhecem e simplesmente ignoram quando é conveniente – e evitando que esses empresários recebam multas exorbitantes. Hoje, trabalhando no levantamento de uma área que pretendemos liberar para a implantação de um empreendimento do tipo “Minha Casa, Minha Vida” tivemos um belo exemplo de como não se deve conduzir uma obra.
Pra quem não sabe cada empreendimento liberado, apresenta (ainda que os peões não conheçam) um PGRCC que define como e quando serão efetuadas determinadas ações numa obra. Para tanto, ele determina como serão descartados os entulhos produzidos na obra e para onde serão encaminhados, onde devem ser depositados e como devem ser separados os materiais, etc. Teoricamente, o profissional que assina esse programa de gerenciamento precisa fiscalizar a obra, evitando que seu nome fique “sujo na praça” caso haja alguma vistoria e a obra receba uma multa.
No entanto, o que vimos foi estarrecedor: árvores pregadas, caliça pra todos os lados, madeira com pregos e todo o tipo de lixo jogado, ou seja, nada de PGRCC sendo cumprido. Pra complicar ainda mais a situação, os responsáveis pela obra liberaram a retirada de terra de área de preservação permanente (APP) o que vai dar uma multa DAQUELAS e muito bafafá. E depois o culpado é o biólogo!!! O pobre do Jair ganhou uns cabelos brancos a mais hoje...
É óbvio que trabalhar nesses empreendimentos é complicado e é necessária muita diplomacia, mas é possível sim aliar a essa tarefa à ética na prática da profissão. Espero aprender a fazer isso, porque é beeeeeem complicado!
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